sexta-feira, 1 de julho de 2016

A verdade por detrás da ausência

Há tempos uma amiga dizia-me para eu ir escrevendo para vocês irem lendo as peripécias e saberem que é possível sobreviver.
Pois então, esta ausência teve razão de ser.
Com 8 meses de gémeos, consigo dizer que sim, é possível sobreviver e até às vezes viver um pouco e gozar o que a vida tem para nos oferecer. Não consigo é escrever no blog.
Mas é possível, é possível ser mãe de gémeos de 8 meses, mãe de uma menina de 6 anos, madrasta de um rapaz de 16, mulher de um Maisquetudo, profissional, filha, irmã, amiga...
...Tudo com as suas limitações, claro.

Se há momentos difíceis?
Há!
Muitos!

  • Mas depois de uma bronquiolite com internamento de uma semana de um deles (que escrevi aqui) 
  • Depois de 4 otites, febres de 4 em 4 horas sem possibilidade de dar brufen e a única coisa que podia fazer era despi-lo para não chegar aos 38,5 senão teria de ir para o banho.
  • Depois de uma gasteroentite minha em que não conseguia tratar dos gémeos e  que no espaço de 3 horas cheguei ao hospital desidratada.
  • Depois de escarlatina da mais velha, diagnosticada por mim no primeiro momento que vi as pintas, mas que precisou de 5 horas na urgência do hospital para receitarem o antibiótico.
  • Depois de uma faringite minha em que sentia o ranho a escorrer nariz abaixo sem puder assoar porque tinha um gémeo doente ao colo,
  • Depois de ir trabalhar (sim, já estou a trabalhar) com 2 horas de sono em cima e saber que vou chegar a casa e não tenho tempo para dormir e recuperar...
  • Há momentos em que um chora e vês que tem febre mas o termómetro marca 37,2 e num rasgo de insistência pegas noutro termómetro e marca 38,8.
  • Há momentos em que sais do trabalho, vais buscar os 3 e leva-los os 3 para o hospital, não porque as consultas a 3 estejam em desconto, mas porque estão os 3 doentes.
  • Há momentos em que tu estás doente, mas não vais ao médico porque não tens tempo, tomas benurons e actifeds e rezas que passe.
  • Há momentos em que tu pensas que eles te pegaram a constipação, mas logo vem alguém a mandar a boca que estás constipada e pegaste aos meninos
  • Há momentos em que depois de um dia inteiro em casa, não tivemos tempo de fazer jantar e acabamos por comer torradas e cereais e sentes-te a pior mãe e mulher do mundo.
  • Há momentos em que estão os 3 a tomar o mesmo antibiótico e tentas dar a todos ao mesmo tempo para não te escapar nenhum.
  • Há momentos em que só apetece chorar com eles e em vez disso cantas e danças para eles se calarem e verem o que é que esta parva está a fazer.
  • Há momentos em que devias ter paciência, mas em vez disso mandas um berro e ficas com a consciência pesada e passas o resto do dia a dar mimos e beijinhos como se de alguma forma compensasse.
  • Há momentos em que um dorme apenas o tempo que o segundo demorou a adormecer e apetece-te chorar porque tinhas tantos planos, não era arranjar as unhas, nem sequer pintar o cabelo ou fazer a depilação, era simplesmente tomar banho e fazer almoço para a mais velha.
  • Há momentos em que sais do quarto deles, desesperada, depois de estar 45 minutos a tentar adormece-los e em surdina pregas um berro à mais velha para fazer menos barulho e ela fica a tremer, apavorada, não do berro, pois este foi em surdina, mas do susto de morte que apanhou por teres chegado sem ela dar conta. E ficas cheia de remorsos e espalhas-te no chão a abraça-la a pedir desculpa.
  • Momentos em que estás o dia todo em casa e são 15 horas, ainda não almoçaste, levantaste-te às 6.30, só tomaste uma torrada às 10h com um ao colo e vais almoçar com o outro ao colo.
  • Momentos em que o cansaço é tanto que olhas para um deles sem os cintos no ovo e não te recordas se já tiraste os cintos ou se nunca o puseste e ele veio no carro sem o cinto.
  • Momentos em regressas ao teu quarto onde te ausentaste por segundos e vês que deixaste um deles na tua cama sem qualquer proteção e pensas que tens um anjinho da guarda a olhar por eles que fez com que ele não se tivesse mexido.
  • Momentos em que esperas que a ajuda chegue, mas ela só chega passado 1 hora e a crise está resolvida.
E depois vem a escola.
Aquele bicho papão de doenças e outros cuidadores que não tu, que te faz sentir a pior mãe, não pela sensação de vazio por os teres deixado lá, mas por, gostares da sensação de teres algumas horas sem miúdos e conseguires respirar.

Enfim...posso dizer que sim, passamos momentos difíceis, muito difíceis, mas também muita, muita felicidade, um sem fim de alegrias, de cumplicidades de aprendizagens.
Não escrevi no blog, não, mas quis além de ultrapassar os momentos dificeis, aproveitar todos os maravilhosos momentos que também vivemos.
E sim, é possível sobreviver, viver e gozar tudo o que a vida nos tem para oferecer.

Agora, espero que vivo momentos mais calmos, em que tudo se parece compor, vou tentar recomeçar a escrever.
Vou escrever sobre o agora, mas também sobre estes momentos que vivemos.
Vou libertar o que me vai na alma, mas também recordar.
Ass.:
Eu mãe mulher menina

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